sábado, 4 de novembro de 2017

(Microconto)


No mesmo ano em que seu irmão se formou engenheiro, Gilberto decidiu que seria escritor. Faria 18 anos dali a alguns meses e logo seu pai o faria decidir entre a toga de juiz e o jaleco de médico. Só podia ser doutor. Escrevia seu sonho em silêncio, pois sua voz o traía, e aguardava paciente pelo momento de libertação. Quando enfim deu vazão em palavras faladas às suas inquietações, em fúria disse seu pai “prefiro morto”. Gilberto morreu para sua família e hoje vive do que escreve e do que escreveram os outros. Quando se lembra daquele momento e das palavras que disse com a voz trêmula, se arrepende. Deveria ter escrito.



Ludine Alves, Graduanda em Letras Vernáculas com uma língua estrangeira, turma 3.









(microconto) MULHER NUA





     Ela tirou o vestido sujo e entrou no banheiro ainda trêmula…….e o sangue escorreu. Desceu as escadas, passou a porta, saiu à calçada, atravessou a rua, dobrou a esquina e, cem metros depois, fez uma pequena poça em forma de coracão em frente ao terreno baldio onde ela acabara de ser estuprada.




ADEBAMBO SAMUEL AJAYI - Graduando em Letras - Turma 3

(microconto) ÚNICO OBJETIVO



Minha vida desarrumada, destorcida. Apenas acordo e durmo todos os dias. Dias viraram semanas; semanas, meses; e meses viraram aos anos, sem qualquer objetivo. Só vivo no mundo sem rumo. Estou aqui hoje, lá, amanhã, sem direção. Não tenho um lugar fixo. Que tipo de vida inútil é essa?
Olha! Um bebedouro! É um aparelho, né? Um aparelho com um único objetivo, num lugar fixo fazendo uma coisa útil.

Puxa! Minha vida e um aparelho, qual é mais útil agora?


OMOLOLA OLUWATOSIN APOESO - Graduanda em Letras - Turma 3

(microconto) REVOADA



AOS QUE ACREDITAM QUE, POR TER ASAS, ESTÃO FADADOS AO VÔO INCESSANTE: iludem-se. Sei de um sabiá de asas imponentes, do desclichê e do desvencilhamento. Tomava os céus e seu pouso era ondebemquisesseeviesse. Conheceu um beija-flor, que nem no codinome, que lhe fez voar com ele para não voltar, lhe tomando pelos braços e mudando sua trajetória. A sensação era maravilhosa, mas vestia asas de Ícaro. E cansou sozinha, sucumbiu sozinha e caiu sozinha. O beija-flor? Levanta o vôo outra vez, desperdiçando o mel que era pra ser nosso, me deixando o fel engasgado na garganta.  


Jhade Borges - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira - Turma 3

(microconto) CORREDOR



Ela corria como o vento corre nesse corredor. Passava como o ar, depressa pelas prateleiras repletas. Resfriou-se pela necessidade.
Não podia aquecer-se tanto. Isso afastava as pessoas. E isso doeu. Doeu numa dor forte e dilacerou-se.




Taíne Rabelo - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

(microconto) PREIA-MAR


Depois de ter se desfeito, num rio de lágrimas, da dureza dos dias, decidiu encher-se de vida e ilusões.



Tão qual lixeira que suporta, até transbordar, o lixo sólido diário dos transeuntes.



Roselaine Costa - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

(microconto) Sombras


Vagarosa voava pelo corredor em direção a rotina matutina, morna cálida, vidrada, engessada, cansada. Discentes, docentes, descentes, descendem... Caem, envelhecem, amadurecem, apodrecem. Aprendeu a metamorfosear todo dia. Sua sombra na vidraça logo lhe avisava que antes de voar teria que soltar as amarras. A universidade lhe ampliava e lhe moldava, mas jamais desistiria de sair de lá pronta para colorir outro pomar.



RAELI DOMINGOS, Graduanda em Letras Vernáculas, turma 3.

(microconto) INSPIRAÇÃO...







7h da manhã e você busca inspiração do fogo que centelha o café e do atrito do ar que aquece, mesmo ar onde saltam borboletas, onde flutuam ideias livres ao longo do campus... alguém, por favor, me empresta um isqueiro?



João Paulo, Graduanda em Letras Vernáculas, turma 3.










(microconto)



Tantas pessoas logadas,
Ligadas em 220V,
Que esqueceram de se desligar,

E viver.


RAFAELA PITTA BAHIENSE - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

(microconto) Não estava presente


Era madrugada, segunda feira de um final de semestre. Depois de tomar café, Julia não conseguia parar de andar em círculos pela casa e pensar no que tinha para fazer na hora seguinte, no dia seguinte, na semana seguinte: não conseguia manter sua mente no presente. Estava irritada, mas não se lembrava o porquê, sentia uma dor aguda na boca do estômago e roía as unhas. Ainda precisava ler, escrever e editar. Num minuto queria fazer tudo ao mesmo tempo, no outro só queria dormir e chorar.
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Graziele Silva de Jesus, Graduanda em Letras Vernáculas, turma 3.

(microconto) QUEM É ELA?


                                  
                                         
                   Será que ela está triste? Pode ser que ela esteja feliz? Ela está frustrada ou ela tem medo. Talvez ela esteja preocupada. Não , pensamos que ela esteja cansada. Cansada ? Porque ela deveria estar cansada? Ela deve ser forte, não é? Ela está doente? Talvez ela esteja com fome ou ela não pode alimentar seus filhos, pode ser que ela esteja com fome porque ela já alimentou os filhos dela, e não tem mais para ela. Ela quer evoluir. Ela quer se revoltar; quer voar, mas não pode sem os filhos dela. Ela faz tudo sozinha. O que ela faz sozinha? Ela sofre toda a dor, e as tristezas sozinha. Mas, ela compartilha todas as coisas boas com pessoas queridas pelo coração dela.
                  Não, não...... não acreditamos que ela precise voar, seu dever é sentar e cuidar das crianças. Acreditamos que ela esteja feliz assim, ela ainda não reclamou. Como ela se sente?....... isso importa somente para ela, não importa para nós. Ela deve suportar tudo e aproveitar tudo também. Porque?  Quem é ela? Ela é MÃE. Essa é a resposta para tudo.


Omotola Damilola - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

(microconto) Tinta e Pincel






Noemi Silva dos Santos, Graduanda em Letras Vernáculas, turma 3.

(microconto) Prognóstico em Azul



Da primeira vez, ela notou a mancha ao apagar a luz. Acendeu a luz do quarto mais uma vez. Depois, apagou. Não tinha sido uma impressão. Estava lá. O médico lhe disse o nome da doença, mas não pôde compreendê-lo. Sabia apenas que era como se sua retina fosse mais velha do que ela mesma. No seu trabalho ela tinha que ler letras pequenas. E toda a vida seu melhor passatempo fora bordar. Na solidão do seu apartamento cosia cortinas de rendas tão ricas quanto as copas das árvores do lado de fora da janela da sala. Que seria dela sem o bordado e sem a escola? Não tinha amigos. Há muito já não tinha família. Virou-se para a janela num dia que lhe disseram estar claro e viu a escuridão fechar-se em volta do estandarte azul que todo o dia prenunciara o seu derradeiro destino.


T. Pedreira de Oliveira Britto - Graduanda em Letras Vernáculas  com uma Língua Estrangeira

(microconto)


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

(microconto)

Buscar ter EducaÇãO,
Alcançar Universidade.
Precisar a Coleta.

Seletividade!?


Mônica Nazaré de Souza Pedreira, Graduanda em Letras Vernáculas, turma 3.