Da
primeira vez, ela notou a mancha ao apagar a luz. Acendeu a luz do quarto mais
uma vez. Depois, apagou. Não tinha sido uma impressão. Estava lá. O médico lhe
disse o nome da doença, mas não pôde compreendê-lo. Sabia apenas que era como
se sua retina fosse mais velha do que ela mesma. No seu trabalho ela tinha que
ler letras pequenas. E toda a vida seu melhor passatempo fora bordar. Na
solidão do seu apartamento cosia cortinas de rendas tão ricas quanto as copas
das árvores do lado de fora da janela da sala. Que seria dela sem o bordado e
sem a escola? Não tinha amigos. Há muito já não tinha família. Virou-se para a
janela num dia que lhe disseram estar claro e viu a escuridão fechar-se em
volta do estandarte azul que todo o dia prenunciara o seu derradeiro destino.
T. Pedreira de Oliveira Britto - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira
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