sábado, 4 de novembro de 2017

(Microconto)


No mesmo ano em que seu irmão se formou engenheiro, Gilberto decidiu que seria escritor. Faria 18 anos dali a alguns meses e logo seu pai o faria decidir entre a toga de juiz e o jaleco de médico. Só podia ser doutor. Escrevia seu sonho em silêncio, pois sua voz o traía, e aguardava paciente pelo momento de libertação. Quando enfim deu vazão em palavras faladas às suas inquietações, em fúria disse seu pai “prefiro morto”. Gilberto morreu para sua família e hoje vive do que escreve e do que escreveram os outros. Quando se lembra daquele momento e das palavras que disse com a voz trêmula, se arrepende. Deveria ter escrito.



Ludine Alves, Graduanda em Letras Vernáculas com uma língua estrangeira, turma 3.









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