Diariamente às 5:30, bebo um café preto e sem açúcar
enquanto olho pela janela me convencendo a acordar. Quem me convence é o
relógio mostrando que estou atrasado, mas não saio de casa antes de fazer uma
rápida inspeção no rosto para não chegar no trabalho com a barba por fazer.
Coloco o pé direito fora de casa entrando em sincronia com
outros que transitam à passos largos e constantes em direção ao ponto de
embarque, pois a fila do ônibus é a primeira preocupação do dia.
Filas são assim: Desconhecidos, cangote à cangote aspirando
algo em comum, uma demanda maior que a oferta que nos leva ao purgatório da
letárgica espera.
Certo dia, enquanto esperava na fila, percebi que um barbudo
estava me observando a poucos metros de distância. Sentado em um banquinho de
madeira ele trajava roupas leves e desbotadas. Com ar de sossego ele respirava
fundo degustando os primeiros raios de sol enquanto escutava um pequeno rádio
de pilha no bolso da camisa. No encontro dos nossos olhares, o barbudo estendeu
a mão em sinal de cordialidade enquanto acenava com a cabeça, e eu acostumado
com a educação dura e dissimulada, procurei interromper o contato fazendo com
rapidez um sinal de cabeça enquanto fingia um aceno com as mãos. O barbudo
retribuiu novamente com um sorriso livre como quem tentava me dizer que eu não
precisava entrar no ônibus. Aí comecei a me perguntar:
E se eu não entrar no ônibus? E se eu sair da fila?
Quando foi que eu me encaixei nessa engrenagem que me faz
girar compulsivamente? Será que eu tenho escolha? As perguntas me fizeram
perceber que eu construí a minha vida em cima de bases sustentadas por filas e
ônibus. Então eu continuei fiel à fila até entrar no ônibus, apesar do sorriso
do barbudo me dizendo que eu não precisava.
José Renato – Graduando
em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira
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