Tive que chegar para o lado pra dar
espaço pra ela. Meu espaço. Agora, nosso espaço. Minha cama é e sempre foi meu
lugar, meu abrigo e meu porto seguro, e agora me vejo chegando pro lado para
que ela possa deitar comigo. Ela tem nome: Natália. E quando a conheci, eu estava
perdida entre as idas e vindas de uma vida cheia de obrigações, sem
satisfações. E ela se fez presente, tão presente que deitou na minha cama. Meu
espaço. Estava hesitante no início, ela não só bagunçou a minha cama, mas a
minha vida. Meus horários, rotinas, viagens e planos, ela deitou na minha cama
como se fosse sua, invadiu minha casa e eu gostei disso. Eu permiti isso, eu
esperei por isso, eu contei os minutos para isso. Meu espaço, agora nosso
espaço sem espaços.
E pela primeira vez em muito tempo, nasceu pele no meu
corpo. Eu estava exposta, nua e minha pele em carne viva, mas a cada toque dela,
minha pele se refez, nasceu de novo. Minha pele era meu lençol, minha vida era
aquela cama, e seu toque me fez ficar radiante novamente. Entre tantas idas e
vindas, camas bagunçadas, pele exposta, ela ficou. Ela se fez presente na minha
cama, meu espaço, agora nosso espaço. Ela é variável, mas constante na minha
equação, minha pele, é como ar fresco, uma brisa ou um vento de final de tarde.
Natália, porque não consigo esquecer seu nome, porque marcou o meu espaço,
agora nosso espaço.
Para almas solitárias, mentes vazias,
peles expostas, um bom nome é lembrança. Algo que antes eu não tinha: alguém
para lembrar. E agora, eu lembro dela todos os dias, porque foi a única que
conheceu o meu espaço, foi a única que tocou minha essência, que refez a minha
pele. Natália sabe, mas vai descobrindo aos poucos, enquanto eu vou decifrando
seu olhar meia-lua, enquanto eu dou espaço para ela deitar. Meu espaço, agora
nosso espaço. E ninguém, além de nós, já deitou nessa cama. Natália, aqui
registro seu nome para que ela saiba que não mais existe meu espaço, nosso
espaço no qual não há
espaço entre nós.
RAFAELA PITTA BAHIENSE - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira
Gostei bastante da crônica, a relação entre a imagem e o relato da autora ficou muito boa. Mostra que uma imagem, como a cama desarrumada, possui muito mais informação do que se pode ver.
ResponderExcluirUma crônica muito boa, intimista. A imagem dialoga bastante com a parte escrita, trazendo informações que me inspiraram de certa forma.
ResponderExcluirApesar de ter uma estrutura mais como conto, é interessante pensar esta crônica como poema devido ao seu ritmo, lirismo, intimidade entre autor e leitor e por quase conseguir criar versos.
ResponderExcluirO que mais gostei é como a autora conseguiu mostrar com intensidade os seus sentimentos
A crônica é coerente com a imagem. Ela se encaixa no estilo poema, pois contém o lirismo e a intimidade que a Rafaela passa permite que o leitor sinta as sensações que ela quer passar.
ResponderExcluirQue linda sua crônica!! Mostra a força da relação entre as duas personagens, de uma forma muito poética.
ResponderExcluir