Após o momento de euforia por ter sido aprovado no
vestibular em uma instituição pública, chega o momento de sentar com os pais
para ajustar todas as pendências de materiais, rotina, transporte e metas para
a vida na Universidade. E então, enquanto o primeiro dia de aula se aproximava
e a careca pós-trote iria sumindo em meio aos fios de cabelo que cresciam
disformemente devido à falta de piedade dos meus amigos em raspar minha cabeça,
a questão do transporte ainda era uma incógnita. Iria de ônibus? Iria de
carona? Iria de bike? Tudo isso me preocupava, pois embora já utilizasse ônibus
nos anos da escola, ainda tinha receios em andar de ônibus ou até mesmo andar
na rua, por conta dos traumas de assaltos sofridos. Já havia sido assaltado na
rua, já havia estado em um lugar quando ele foi assaltado, agora só faltava ser
assaltado no ônibus, “pronto, nesse ano eu não escapo! Vou desenrolar logo o
meu celular do ladrão” eu, pensei.
Em meio a esses pensamentos, a esperança surgiu ao descobrir
que havia um Buzufba que passava literalmente na porta de casa, quase um
transporte escolar só que de graça e universitário, e ainda por cima não parava
em todos os pontos de ônibus, mas somente nos pontos onde se encontram prédios
da UFBA, ou seja, diminuiria bastante a possibilidade de ser assaltado no
ônibus. Ufa! Driblei o mau agouro do assalto.
Estava bom demais para ser verdade, quando começaram as
aulas e eu comecei a utilizar o Buzufba, provei que realmente é seguro, e que,
de certa forma, os ônibus estão conservados internamente, porém, os horários de
chegadas e partidas eram uma bagunça! Ônibus previsto para 8:20 da manhã, chega
em um dia 9:00 e no dia seguinte 8:10 e isso era um atraso imenso na vida de um
estudante sem tempo! Nunca poderia ter certeza se os ônibus atrasariam ou
chegariam cedo e o intervalo entre eles é de no mínimo 1 hora. Resumo da ópera:
terei que pegar ônibus normal e o mau agouro então riu de mim! Pelo menos, não seriam todos os dias, pois no
primeiro horário das rotas os ônibus são pontuais e em alguns dias não tenho
necessidade de pegá-lo. Menos mal. Mas, um dia relatando a alguém sobre minha
relação de gratidão e revolta com os Buzufba’s, toda inocência fora tirada
quando eu disse animado:
- Foi uma bênção de Deus esse buzufba, pago nada e ainda é
seguro, pena que tem esses atrasos que me quebram.
E então essa pessoa respondeu rindo
- Paga nada e é seguro? Você tanto paga como não é seguro.
Seus pais pagam impostos que possibilitaram a existência do buzufba, e direto
acontecem assaltos, principalmente, pela manhã cedo, no horário em que você
pega.
Uma vez li alguém dizer em um artigo que o brasileiro é um
povo indeciso, pois ao entrar em um ônibus lotado, pega o único lugar sobrando,
seja ele qual for e não reclama. Mas, quando pega um ônibus com vários lugares
vazios, é um dilema complexo entre qual seria o melhor lugar a se assentar.
Seria o meu caso mais um exemplo de indecisão? Deveria estar contente porque em
meio a poucas opções ter o buzufba ou deveria estar insatisfeito com um serviço
que é do meu direito, porém é mal prestado? O homem deve ser grato por, em dias
difíceis, ter ainda coisas razoavelmente boas ou ele deve ser revoltado por
aquilo que tem não ser tão bom quanto lhe é de direito?
Então, essa é a minha relação com o Buzufba, uma relação
complexa de gratidão e insatisfação.
SAMUEL BARAUNA DE
FIGUEIREDO – Graduando em Letras Vernáculas com um Língua Estrangeira
Interessantes os questionamentos mais profundos que foram levantados pelos dilemas com as opções de meios de transportes. Gostei também de sua linguagem descontraída.
ResponderExcluir