Certo dia, eu estava caminhando pela casa, entediada da
tarde monótona quando, subitamente, avistei, da varanda do quarto da minha mãe,
as árvores da minha rua cortadas. As casas ao lado passaram a me parecer menos
elegantes dessa vez, sem a roupagem das folhas na frente. Parei para pensar,
então, o porquê de terem feito o corte, se aparentemente as árvores não
prejudicavam a fiação elétrica, nem soltavam muitas folhas, e muito menos
atrapalhavam a passagem. Ouvi dizer que, mesmo sem motivo, cortar as árvores é
quase um ritual em alguma época do ano.
Comecei a conversar descompromissadamente com um amigo por
telefone, ainda olhando para a rua, sentada no chão. Quando contei sobre o
ocorrido, recebi como resposta: "você não deve se preocupar com isso, e
sim com as queimadas e cortes na Amazônia". Fiquei ofendida com o que
ouvi, principalmente por sentir que meu pensamento estava sendo menosprezado. E
me chocou um pouco o fato da relutância do meu amigo em perceber que de cortes
em ruas pequenas, se faz um desmatamento na nossa própria cidade que tomam
proporções grandes quando avaliamos os malefícios de destruir a vegetação.
Percebi que esse é um pensamento geral, já que nenhum corte
indevido de árvores ou poda excessiva é noticiado como uma coisa tão ruim, como
se não fosse das pequenas ações que surgissem as grandes. E fiquei ali olhando,
refletindo no quanto isso foi importante para mim na mesma proporção que era
banal para muitos. Aquela árvore, tão próxima da minha casa e da varanda onde
eu fico sempre, pensei, talvez tivesse um significado maior para mim, como
quando o meu pai estaciona o carro ao lado dela e ficamos conversando por
horas, ou quando meu cachorro faz xixi especificamente naquele tronco, como se
fosse o seu preferido.
Vanessa Caroline –
Graduanda em Letras Vernáculas – turma 3
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