Lá pelos meios da cidade de
poeira e maresia, construíram um metrô. Não era lá um grande metrô, mas mesmo
assim fez com que brotassem viadutos, curvas e estações nas ruas. A tal da
cidade não era novata nestes equipamentos, pois era conhecida pelo seu enorme
elevador, ali, do ladinho da ladeira, para quem quisesse economizar no chinelo.
Logo seus habitantes se acostumaram a mais asfalto, mais pedra, menos azul para
quem tem os pés no chão. Afinal, não já tinham visto, dia após dia, o verde
sumindo por trás de janelas enfileiradas, crescentes e sempre fechadas?
Foi seguindo seu caminho de cinza
que a cidade não viu o céu abrir. Em sua defesa, o tempo não costumava ser
muito decidido em seu território, obrigando os confusos habitantes a dançarem o
carnaval fora da época, tirando e colocando seus finos casacos. Mas eis que o
sol saiu e trouxe uma companhia sorrateira, um desenho quase esquecido, ligando
o não sei onde com o não faço ideia de onde vai dar. O que é que era isso? Ah,
menino! É um arco-íris.
Verdade seja dita: não era lá
muito imponente, assim de vista. Se o cidadão não desse uma esticada de pescoço
bem dada, era capaz de não ver. Mal se dizia que esta aparição, em um qualquer
pedaço de pano ou papel, corria pelas cidades em dia de festa, a avisar que
havia orgulho, havia resistência e amor. E quem é que poderia imaginar como uma
manifestação daquele que, entre os seus, de pé sobre o dique, com a cobra em
sua mão, controlava todos os movimentos e ciclos? Ou que, na mais simples das
hipóteses, simbolizava ursinhos gordinhos cheios de carinho para oferecer?
O fato era que o arco-íris era
mesmo luz do sol interagindo com água, cientificamente falando. A ciência, no
entanto, não era muito popular nas ruas da cidade, que gostava mesmo era de uma
boa igreja cheia de deus lhe abençoe. Portanto, quem se atreveu a olhar para
cima, em mais um dia de chove-não-chove, viu o que bem quis. Viu orixá, viu
parada, viu carnaval, viu criança, viu magia, viu cor. Cor essa que, sem dizer
nem um pio, contou um segredo em cada ouvido que encontrou. E sozinha, ali,
mais alta que qualquer pedaço de concreto empilhado, reinou por alguns minutos
sobre o trabalho de anos, que, muito diferente dela, não queria dizer coisa
alguma.
REBECCA R P DA CUNHA –
Graduanda em Letras Vernáculas - Turma 3
Muito bom o ritmo de seu texto, gostei muito de sua crônica.
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