A vaidade é encantadora. Não me refiro
simplesmente à vaidade que te faz trocar de roupa três vezes antes de sair de
casa. Esse é apenas um traço da vaidade a qual me refiro. Me refiro à vaidade
que me obriga a procurar sinônimos para não repetir tanto a palavra vaidade só
neste primeiro parágrafo. Aquela vaidade que parece permear toda relação
humana. Ela está nos nossos passos, nos nossos olhares, nas nossas
respirações.
Pensava sobre isso enquanto alguns gelados
e derradeiros pingos de chuva caiam sobre a minha cabeça. O ar frio e o céu
cinza escuro pareciam ter despertado o meu humilde filósofo interior. Andava
sobre a calçada molhada da rua remoendo a desconfortável verdade: eu sou muito
vaidoso. Cheguei até a tentar negar o fato até que percebi o meu peitoral
estufado e a minha coluna extremamente ereta. Notei como meus passos eram
friamente calculados. Para quem eu quero mentir? A vaidade já tomou conta de
cada pedaço do meu corpo.
A vaidade me tortura. Puxa com grosseria a
memória do aperto de mão constrangedor de ontem. Já emenda com a forma como
fiquei sem graça quando encontrei uma velha e distante conhecida num ponto de
ônibus semana passada. Chego a balançar a cabeça para afastar esses pensamentos
vergonhosos. Sou do tipo que se retorce em agonia apenas com as lembranças
embaraçosas. Algumas pessoas me chamariam de tímido. Eu prefiro vaidoso.
A vaidade me acorrenta. Ela faz de mim um
escravo da aprovação alheia. Minhas ações são reguladas por inúmeras reações
que nunca existiram e que provavelmente nunca existirão. A vaidade me mantém
nesta senzala escura, úmida e abafada, longe de tudo e de todos. Uma senzala
feia e vaidosa. A vaidade é realmente encantadora.
Isac Lima do Nascimento – Graduando em
Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira - Turma 3
Legal a sua crônica, seu relato tão aberto.
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