Certo dia, vi um homem que cultivava garrafas. Plantou
uma árvore e, nos seus galhos, guardou sonhos mal pendurados e bebidas de
outras noites. Comecei a questionar o porquê do hábito tão incomum, visto que a
cena de uma árvore que dava garrafas parecia surpreender a todos que passam
pela frente da casa do sujeito. Seriam as lembranças tão frágeis assim? Parei
por um breve momento - que se estendeu mais do que o programado - e tentei me
recordar de situações que já me ocorreram e que, por um determinado momento da
minha vida, tiveram um significado e importância julgados infinitos por mim,
mas que atualmente se tornam obsoletos diante de todas as outras memórias e
experiências vividas nos tempos seguintes. Voltei os olhos para a árvore mais
uma vez, e comecei a imaginar sobre o que cada garrafa ali contava. Um amor
perdido, uma noite de boêmia, um bom jogo de dominó ou apenas um dia no qual a
solidão assolou e foram necessários alguns goles para o sono conseguir chegar.
É possível que uma garrafa pudesse guardar tantas lembranças?
Cansada e sem nenhuma resposta concreta, cheguei em
casa e me deitei mais um pouco pra pensar sobre o acontecido. Por que deixei
tantas lembranças de lado? Levantei, esvaziei uma garrafa e coloquei na janela.
Quem sabe eu não esqueço dessa vez.
Beatriz Cruz
(Estudante de Letras)
Adorei! A imagem e o texto tem muito em comum, acredito que se encaixe na crônica conto, a sacada das memorias com as garrafas foi ótima,amei.
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ResponderExcluirQue tocante! Amei demais. Simples, profunda, completa.
ResponderExcluirO texto por si só já está incrível, casado com a imagem... Tá sensacional!
Amei a forma como a crônica foi escrita. Realmente maravilhosa. A imagem casou muito bem com o texto, e o filtro em preto e branco também ajudou muito a criar o clima lúdico do conto.
ResponderExcluirAdorei a crônica! As perguntas realmente nos fazem questionar e refletir sobre nossas memórias e lembranças. A foto ilustra muito bem o texto.
ResponderExcluirGostei do pareamento da imagem com o texto, cria um conceito que reverbera no imaginário. O texto, existencial, questionador, intimo (no sentido que cada solidão e cada dor é única e intransferível, e embora todos sintam, não se sente 'junto').
ResponderExcluirTem a melancolia da poesia, mas envereda como um belo conto. Remonta a muitas de minhas próprias experiências.
A comparação do vidro com a delicadeza das lembranças e da própria vida, é sublime.
Gosto da ambiguidade proposital ao fim do texto. Como terá se esvaziado a garrafa? De certo há uma, ou muitas coisas para serem esquecidas... e depois de lembrar tantas coisas, é ironico como o primeiro instinto é o de tentar esquecer algo que ainda nos permeia.
Adorei a imagem da árvore de garrafas, muito criativa. A conexão com o texto ficou muito legal.
ResponderExcluirAdorei o conto, trazendo a fugacidade das lembranças, afogadas e também rememoradas através da bebida...
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