Acordo
quase todos os dias às cinco e meia da manhã. Quase, porque existem aqueles
dias nos quais a gente acorda meio dormindo e meio que decide colocar mais meia
hora na conta do despertador. Vou trabalhar quase todos os dias. Quase, porque
têm alguns dias da semana nos quais eu não trabalho mesmo. Sou muito responsável.
No
meu trabalho, uma escola de idiomas bastante renomada, situada num bairro nobre
de Salvador, é muito comum que no dia a dia eu me depare com relatos de viagens
inesquecíveis, às vezes até contados por pessoas que nem foram na tal da
viagem:
–
Meu filho acabou de voltar do intercâmbio no Canadá. Lá ele morou num bairro
lindo, muito arborizado, vizinhança simpática. A escola então, uhh, magnífica.
Claro
que a arborização do bairro em que se vai morar no exterior é de suma
importância para o bem estar do indivíduo viajante, mas não pude deixar de notar
o quão corriqueira parecia ser a situação supracitada para aquela senhora, que
com quarenta anos ou menos – ou mais – já havia mandado dois filhos para
estudar no estrangeiro e mandaria quantos mais os tivesse, porque segundo ela
“trabalhava para isso”.
Engraçado
é que naquele momento me peguei pensando “eu também”. Eu também trabalho mandar
alguém para o exterior: eu mesma. Atrás da minha mesa inclusive, tenho um
quadro com fotos da cidade de Nova Iorque, para não me deixar esquecer os
motivos pelos quais eu enfrento horas e horas de trabalho e estudo todos os
dias. O grande problema de quem trabalha para mandar a si mesmo para um lugar
diferente é que normalmente essa pessoa também precisa manter a si mesma no
lugar de sempre. E é aí que começa o dilema:
–
Viajo e perco o trabalho?
–
Tranco a faculdade nas férias e viajo?
–
Largo tudo e caio no mundo?
–
Esqueço os planos e volto pra realidade?
Esse diálogo de mim
comigo mesma, normalmente se encerra na ultima proposição. Viajar é pra quem
pode se preocupar com a quantidade de árvores que um bairro precisa ter para
ser agradável.
Ludine Alves, graduanda do curso de Letras, Turma 3
Amei! Acredito que se encaixe na crônica resportagem? Por usar um pouco de ironia e critica a sociedade, a relação da imagem com o texto eu achei bacana.
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ResponderExcluirMuito bom ver um trabalho tão bom vindo de uma colega como a Ludine. A crônica teve um pouco de crítica e terminou com uma boa dose de humor ácido. Parabéns, querida!
ResponderExcluirAchei a crônica da Ludine muito boa e coerente com a imagem. Eu incluiria esse texto no estilo da crônica reportagem, pois ela propõe uma reflexão crítica acerca da sociedade, e principalmente, dos fatos ocorridos no trabalho.
ResponderExcluirAdorei sua crônica! Tem verdade no texto. E, se eu puder dar uma dica, não se encerre na última proposição, junte cada centavo e vá porque vai valer a pena.
ResponderExcluirMuito linda a crônica... Além de trazer a crítica social às desigualdades de oportunidades e ao discurso da meritocracia (eu me esforcei para isso!), como se muitas outras pessoas (e a própria autora...) não se esforçassem cotidianamente, como retratado no início do texto... Parabéns!
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