sábado, 2 de dezembro de 2017

Eu, mendigo (Crônica)

Em um dia comum, ao realizar as atividades pretendidas para aquele dia, já voltando para casa, deparei-me com uma imagem comum e atípica ao mesmo tempo.
 Um homem deitado no passeio de uma avenida bastante movimentada. O que havia de comum naquela imagem era o fato daquele senhor poder ser apenas mais um mendigo e, portanto, marginalizado pela sociedade. O que havia de atípico era a sensação de paz que ele transmitia. Mão atrás da cabeça e corpo totalmente estendido, como ele conseguira descansar em meio ao vai e vem da cidade?
No dia seguinte, fui à faculdade, realizei uma série de atividades acadêmicas e voltei para casa com o senso de missão cumprida. Aquele dia já estava chegando ao final. Quando, deparei-me novamente com o mesmo senhor, no mesmo horário, deitado do mesmo jeito. A única coisa que não poderia ser a mesma era a minha reflexão sobre aquela imagem.
Aquele homem aparentemente marginalizado poderia me trazer uma reflexão a fim de mudar o meu vai e vem diário. Então o meu pensamento começou a vagar sobre quem ele era? Como foi parar ali? Porque estava naquela via quase todos os dias e principalmente porque transmitia tanta tranquilidade?
Talvez ele tivesse sido um executivo bem sucedido que buscava sentido à vida. Ele não entendia porque tinha que trabalhar tanto, embora fosse bem sucedido, seus lucros só serviam para pagar impostos e mais impostos, satisfazer as vontades financeiras da família. E aquela situação virou uma bola de neve. Quanto mais trabalhava, mais tinha que trabalhar para manter o estilo de vida aparentemente ótimo. Procurou, procurou e não conseguiu respostas a suas indagações. A única coisa que ele sabia era que precisava de paz.
Vi ontem um homem deitado no asfalto. A luz do sol incidia sobre seu corpo. Sem lenço, sem documento. Pentes ao seu lado e sapatos em cima de si. Aparentava uma paz digna de um paraíso. Como poderia galgar tanta tranquilidade em meio aos passeios de uma avenida bastante movimentada? O seu aparente desprendimento me chamou atenção. Trajando apenas calças e com a barba enorme. Parecera que possuía tudo o que necessitava para descansar tranquilamente.
Hoje, vi um homem deitado no asfalto. Dormira feito criança, sem se preocupar com as agruras de um país desgovernado pelos próprios governantes.
Na verdade, o homem deitado no asfalto, de marginalizado não tinha nada. Talvez a marginalizada seja eu. Pense comigo: O fato dele não precisar se importar com o amanhã, de obter e acumular coisas desnecessárias mostra-nos a possibilidade que temos de apenas nos preocuparmos com o hoje, vivendo um dia de cada vez, sem tanto consumismo que o capitalismo nos impõe.
Amanhã, verei uma mulher deitada no asfalto, vivendo a tranquilidade de quem não se preocupa com regras sociais e se deleita em estar à margem da sociedade. Encontrarei o paraíso às margens da avenida.


Noemi Silva dos Santos – Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

2 comentários:

  1. Perfeita escrita, consegui conectar perfeita o título À imagem posta. O texto traz uma boa reflexão de forma leve e coesa.

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