sábado, 2 de dezembro de 2017

Presente sempre Presente (Crônica)

 -Rá, tenho uma surpresa, disse minha mãe ao telefone num tom embargado, Fabiano (meu padrasto) vai lhe dar aquele presente que você sempre desejou, mas que lhe disse apenas ser possível presenteá-la quando você pudesse ser responsável por ele. Pensei por alguns segundos e arrisquei: um computador?! Ela sorriu e do outro lado da linha negou a minha interrogativa. Naquele momento só pensava em algo material, palpável, contável estava prestes a entrar no segundo grau, "precisava" de inúmeras novidades para aquela nova etapa estudantil... Era Junho de 2002, já em recesso Escolar, passava dias na casa de meu pai e aquela notícia viria para adiantar o retorno ao meu lar e a curiosidade para me encontrar com o tal presente. Nos dias seguintes insistia para que me adiantasse sobre o tal presente, e cansada de encobrir a verdade minha mãe exclamou: é um cachorro, em breve chegara! Lembro-me, debruçada sobre a janela daquele terceiro andar, ergui meu tronco, arregalei os olhos, e, em alto e bom som, interroguei cética: cachorro ???. Sim, um animal, um cachorro. Eu não imaginaria o quanto alimentar, banhar, conversar, passear, brigar, brincar, ensinar, e tantos outros verbos se tornariam rotinas exaustivas, intensas, aventureiras como foram por bons 15 anos... dormia aos meus pés, me acordava com uma cheirada num rosto descoberto cheio de preguiça e remela. Revelava a cada dia o seu real tamanho... chegou com 30 dias, desmamado e último da ninhada fora rejeitado pela mamãe, pequenino chorava alto. De raça indefinida, possuía pelos brilhantes, negros, olhos castanhos exalando carinho, interesse e compaixão, e um tamanho XGG, por conta desta característica ouvi muitas vezes: Dá esse cachorro; ele não sobreviverá a tão pouco espaço, ele vai morder/machucar vocês, maluquice ter um animal tão grande num ambiente tão pequeno. Eu apenas ria desses conselhos mal colocados, para uma menina que realizava seu sonho de ter um cachorro, e que não se importava no quanto se dedicaria aquele ser, mas via nele a possibilidade de exercitar o amor a outro que não a si mesma, poderia conversar sem ser interrompida, chorar sem ser julgada, amada sem concepções de estereótipo ou similaridades cognitivas humanas de valoração do outro. Sim eram 48 metros quadrados, com um animal babão excessivo, que rapidamente alcançou 20kg e 50cm, correndo atrás das bolinhas, roçando nas almofadas, e pedindo para passear a cada vontade de mijar, porque, sim, ele era educado para fazer as necessidades fisiológicas num ambiente externo ao tal 'apertamento' de conjunto habitacional.
Pai, disse novamente minha mãe ao telefone com meu avô,  sugere um nome para o nosso cachorro. Humm... latim... gostei, vou falar com Rá, acredito q ela vai gostar. Rex, rei em Latim, acredito que combina com ele. Sim combinou, combinava, combina... rei na minha vida, rei da minha vida, estive distante, retornei, contei sobre a importância dele a tantos... segurei seu corpo doente, transportei-o num momento difícil, sua vida e sua morte eu estive ao seu lado. Reencontraremos-nos meu rei!
                                                                     

            Até breve! Amigo



RAELI ASSUNCAO DOMINGOS - Graduanda em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira

Um comentário:

  1. Gostei de sua crônica, é leve, singela, apesar da perda do eterno amigo.

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