sábado, 2 de dezembro de 2017

Vaidade (Crônica)

A vaidade é encantadora. Não me refiro simplesmente à vaidade que te faz trocar de roupa três vezes antes de sair de casa. Esse é apenas um traço da vaidade a qual me refiro. Me refiro à vaidade que me obriga a procurar sinônimos para não repetir tanto a palavra vaidade só neste primeiro parágrafo. Aquela vaidade que parece permear toda relação humana. Ela está nos nossos passos, nos nossos olhares, nas nossas respirações.    
Pensava sobre isso enquanto alguns gelados e derradeiros pingos de chuva caiam sobre a minha cabeça. O ar frio e o céu cinza escuro pareciam ter despertado o meu humilde filósofo interior. Andava sobre a calçada molhada da rua remoendo a desconfortável verdade: eu sou muito vaidoso. Cheguei até a tentar negar o fato até que percebi o meu peitoral estufado e a minha coluna extremamente ereta. Notei como meus passos eram friamente calculados. Para quem eu quero mentir? A vaidade já tomou conta de cada pedaço do meu corpo.
A vaidade me tortura. Puxa com grosseria a memória do aperto de mão constrangedor de ontem. Já emenda com a forma como fiquei sem graça quando encontrei uma velha e distante conhecida num ponto de ônibus semana passada. Chego a balançar a cabeça para afastar esses pensamentos vergonhosos. Sou do tipo que se retorce em agonia apenas com as lembranças embaraçosas. Algumas pessoas me chamariam de tímido. Eu prefiro vaidoso.
A vaidade me acorrenta. Ela faz de mim um escravo da aprovação alheia. Minhas ações são reguladas por inúmeras reações que nunca existiram e que provavelmente nunca existirão. A vaidade me mantém nesta senzala escura, úmida e abafada, longe de tudo e de todos. Uma senzala feia e vaidosa. A vaidade é realmente encantadora.
   
Isac Lima do Nascimento – Graduando em Letras Vernáculas com uma Língua Estrangeira - Turma 3
 

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